segunda-feira, 1 de agosto de 2016

DE E POR: RUI TAIPA - "Meia Dúzia de Histórias" (2014, Ed. Autor)

"Faz uma música para mim". Histórias como esta sabemos quase todos escrever só que estamos num tempo em que já ninguém vai atirar talento à televisão nacional desprevenido de registo próprio. E com Rui Taipa, estudante de Música no Instituto Politécnico de Bragança, não se perdem apenas os pormenores pelo meio. Perdem-se outras histórias difíceis de calar e isso dá muito jeito para “Meia Dúzia de Histórias” que são pedaços de uma só, de 2010 até 2014, dos 16 aos 20 anos de idade. Os amores e desamores têm uma importância vital, não se sabe a 100% o que se quer da vida nem do dia seguinte.
No total, são 6 canções que não terão nunca que amadurecer especialmente a tempo do Croka's Rock 2016. Basta que Rui Taipa justifique que as suas canções são canções de todos e de cada um daqueles que se deslocarem a Oliveira do Arda no primeiro dia do festival que, mais uma vez, não pede licença para entrada. Os ingredientes musicais, esses, são vários e são os mais amigos de quem ainda procura o seu habitat ao sol para que a ideia de "O Amor Em 21 Minutos", título original do EP, não seja um contra-relógio sem pernas ou sem criatividade.


























Maria Manuela
A canção. A história verídica com o uso de um pseudónimo que se justifica apenas com a necessidade de uma rima com 'janela' aquando da escrita da canção. O início de uma história de amor incrível, de um percurso artístico cauteloso, o lado 'pop' que ficou para trás com o passar dos anos. Inicia-se com um solo de harmónica que, como meu primeiro instrumento musical, teria todo o direito e legitimidade de iniciar o tema que daria início a uma longa viagem por esses palcos fora. 'Maria Manuela' é a canção que tocou as pessoas e que volta e meia o público pede com nostalgia.



Why?

Criada no mesmo dia que a faixa seguinte ('Melro') e, salvo erro, na mesma hora. Transmite uma mensagem de revolta e simboliza, também, uma fase de escrita em inglês que evoluiu (não menosprezando) para a escrita na nossa língua-mãe. A malha mais 'ska' com o uso do 'kazoo' transfere um ar jocoso ao tema que o torna leve ao ouvido e propício ao sorriso assim que o ouvinte se apercebe da letra no refrão “what the hell was on your mind to leave such a guy like me? I’m the best you’ll ever get. Oh, can’t you see!' (o que te passou pela cabeça para deixares um gajo como eu? Sou o melhor que alguma vez vai ter! Oh, não consegues ver?).


Melro

Assim como a faixa anterior, é um tema revoltado, triste que fala de perda e da desilusão. O nome justifica-se facilmente com o facto de, o meu pai, na minha infância chamar-me 'melrinho' sempre que eu optava pelo caminha da rebeldia. Assim associei o melro ao “errado”, o 'lado negro da força' por assim dizer.
Conta a história de um rapaz que certo dia encontrou 'um melro' com uma 'asa partida', ajudou a consertá-la, cuidou dele e tem de assistir à fuga do melro assim que recuperado.

A dor que sente e o arrependimento por se ter dedicado e afeiçoado tanto ao melro é expressa no refrão! A força que este tema ganhou entre o público deveu-se ao facto de retratar algo comum a todas as pessoas. Toda a gente já se sentiu traída, enganada por alguém que gosta e sofreu com isso. Esse é um ingrediente fortíssimo na composição de uma canção: fazer o ouvinte identificar-se com a mensagem que está a ser transmitida.


Fuga 

Numa vertente mais 'funk' surge a 'Fuga' (inicialmente, 'Vou Bazar', como é proferido no refrão. O nome foi alterado por razões óbvias). Serve como continuação da situação que a 'Why?' e a 'Melro' criaram mas, de certo modo, é contado num tom não tão de primeira pessoa mas mais como um relato da vida de alguém e, mais à frente, num tom conselheiro de como proceder face aos problemas do dia a dia, face às alturas em que o sujeito deveria dizer 'vou bazar!' e não o fez. A última estrofe surge 'feita à pressão' no dia de gravações quando reparámos que a estrutura da música era deficiente e não faria sentido o final ter apenas uma estrofe. Pararam-se as gravações e um café na pastelaria abaixo do estúdio fez o milagre de criar a estrofe 'Passas a vida a tanto querer; a procurar todo um poder. Tudo isso que não te deixa viver nem vencer!'.
Concluiu-se no 'take' seguinte.



Menina No Banco Azul

É neste tema que se dá a reviravolta na história. O tema mais bonito, mais simples e mais curto. O 'banco' é azul porque o azul é a cor do recomeço e, face à história que está a ser contada, se de repente há uma menina que se encontra triste à espera que tudo volte ao normal, à espera 'do Sol' e se, de facto, 'depois da tempestade vem a bonança' faria todo o sentido colocá-la num banco de jardim, a chorar à espera que a felicidade voltasse. E ela voltou!


Voar 

O EP acaba como começou! Alegria, amor, mel (mel a mais, talvez! [perdoem-me, tinha 16 anos e estava apaixonado!] [[perdoem-me não! Congratulem-me!]]) mas difere (como vem a ser hábito ao longo do EP) no género, denotando-se um travo maior de 'rock' do que de 'pop'. Os cabelos e os olhos castanhos descritos no tema são os da 'Maria Manuela' e que (no tema anterior a este) se percebe que afinal, se tudo voltou ao normal, trata-se, também, da “cachopa” que estava triste sentada num banco de jardim à espera que o “sol” aparecesse. Embora seja claro que a história acaba como começou, o final não deixa de ser um final em aberto.




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